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DATA DA PUBLICAÇÃO 24/11/2017 | Educação
Acusação de racismo faz autora tirar livro ''Peppa'' de circulação
 Acusação de racismo faz autora tirar livro ''Peppa'' de circulação Peppa, de Silvana Rando, que foi acusado de ter conteúdos racistas. (Foto: Divulgação)
Peppa, de Silvana Rando, que foi acusado de ter conteúdos racistas. (Foto: Divulgação)
Críticas à 'Peppa' começaram com vídeo de ativista em abril de 2016. Autora Silvana Rando já recebeu prêmio Jabuti de ilustração por um dos seus livros.

A autora Silvana Rando decidiu neste mês tirar de circulação seu livro "Peppa", lançado em 2009 pela Brinque-Book. A decisão foi tomada após a obra ser acusada de ter elementos racistas. No livro, Silvana conta a história de uma menina de cabelos crespos que decide fazer um alisamento e depois desiste da mudança ao se ver impedida de brincar para conseguir manter o visual.

Silvana é autora de mais de 10 livros e já ilustrou mais de 40 obras. Em 2011 foi vencedora do Prêmio Jabuti com "Gildo", na categoria ilustração de livro infantil. Já a obra Peppa foi eleita um dos 30 livros do ano pela Revista Crescer em 2010.

Peppa virou alvo de contestação sobretudo a partir de abril do ano passado, quando a youtuber, empresária de moda e ativista Ana Paula Xongani fez um vídeo no qual apresentava uma resenha com muitas críticas ao livro. "Quando vi o livro fiquei horrorizada", disse Ana Paula. "Todas as páginas deste livro têm um problema. É um livro extremamente racista", acusa Ana Paula.

Nos vídeos, Ana Paula Xongani diz que a obra é adotada pela rede municipal de ensino de São Paulo e que entrou em contato para cobrar que ele fosse tirada de circulação. Procurada pelo G1, a assessoria de comunicação da Secretaria Municipal de Educação (SME) informou que nunca comprou o livro para o acervo das escolas da rede.

Os ativistas apontam, entre outros, trechos com elementos questionáveis:

Peppa 'arrasta' geladeira e outros itens com seu cabelo, "resistente como fios de aço".
A mãe de Peppa usa um alicate para cortar os fios
A cabeleireira quebra pentes e usa uma furadeira com serra no cabelo de Peppa após 16 horas e quarenta e oito minutos no trabalho de alisamento
A frase final é criticada por, na visão dos críticos, trazer a oposição entre se encaixar no padrão e encontrar a felicidade: "Lá se foi o cabelão liso e sedoso de Peppa...".

"Que informação a gente está passando para essas crianças? Que seus cabelos são ruins e complicados de tratar? Já Peppa tem que escolher, ter os cabelos lisos e sedosos ou ela vai brincar. Isso é um absurdo, a gente está cerceando a liberdade de brincar com a sua beleza natural", afirma a ativista.

Liberdade de ser criança

Antes de decidir tirar o livro de circulação, Silvana argumentou que sua intenção era justamente questionar o custo de seguir padrões. E que se inspirou em uma amiga de origem asiática que tinha os cabelos crespos.

"O livro em questão fala da vaidade exagerada na infância, de trocar a liberdade de ser criança pelos padrões de beleza (...) O preço que pagamos por tentarmos entrar num molde que não nos pertence. Gostar de como somos é tão maravilhoso que quis deixar isso num livro para as crianças", argumentou Silvana.

Ainda após o post com explicações, Silvana ainda continuou recebendo críticas e acabou reavaliando a decisão de manter a publicação.

"Depois de ler e reler a opinião de todos a respeito do meu livro Peppa, gostaria de afirmar que se existe a chance de uma única criança se ofender com seu conteúdo, prefiro que o livro deixe de existir, pois só assim meu trabalho fará sentido." - Silvana Rando

"Pedi à editora Brinque-Book recolher o livro com certa urgência. Meu pedido foi aceito e as providências já estão sendo tomadas. Peço desculpa para aqueles que se ofenderam com o livro, e esclareço que essa nunca foi a minha intenção, muito pelo contrário", escreveu a autora.

Repercussões contra e a favor à retirada do livro

A atriz Samara Felippo, que mantém um canal no YouTube no qual fala sobre cabelos cacheados a partir da experiência com suas duas filhas, foi uma dos que fez uma reavaliação da obra. "Cada livro que leio com minhas filhas me atento a saber que história esta sendo contada. Como irá chegar até elas. Comprei o "Peppa" e de primeira achei fofo, lúdico e "tudo bem", apenas uma história de aceitação", avaliou Samara.

"Mas através do meu canal #muitoalemdecachos (gratidão) fui carinhosamente alertada sobre, como para os negros o racismo está sutilmente manifestado ali. E não!!! Talvez a autora nem tenha tido NENHUMA intenção, ela quis apenas passar a mensagem positiva de aceitação e não imposição de um "padrão", mas ela é branca. Nossa visão é outra. Retirei do meu vídeo e não recomendo a leitura", escreveu Samara Felippo.

Escritores repudiam a censura

No meio literário, diversas vozes se levantaram em defesa da autora e contra a censura. Entre os que se pronunciaram está o autor Ilan Brenman. "O livro fala de uma menina de cabelo crespo incrivelmente forte, inspirado numa amiga da autora. Minha filha pequena que tem cabelo crespo amava esse livro, é um livro que fortalece as crianças e não as rebaixam", afirma o autor.

"Peppa é um livro que exalta a identidade infantil, fala de uma jornada de busca por identidade e com muito humor (pecado mortal hoje ter humor). A blogueira fez uma leitura rasa e enviesada da obra da Silvana. É a mesma leitura pobre e rasa que fizeram do livro do José Maura Brant o acusando de estímulo ao incesto. Se não pararmos com isso agora será um pandemônio literário", afirma Brenman.

"Os livros produzem ruídos, incômodos, sensações e pensamentos. Precisamos fortalecer as crianças com livros que criem imunidade simbólica. O que estamos fazendo é uma eugenia literária" - Brenman.

Por G1
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