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DATA DA PUBLICAÇÃO 28/03/2010 | Saúde e Ciência
A primeira vez
Semana passada, no meio da tarde, o telefone tocou. Era da escola do João. A coordenadora estava ligando para informar que ele havia se desentendido com um amigo durante a aula de educação física e estava ali, com ela. Fiquei completamente surpreso. Afinal, o era raro o João se meter em encrenca, mais raro ainda chegar às chamadas "vias de fato". Mas assim foi. Caramba!

A história, como sempre, tem mais de uma versão. Na da coordenadora, ele teria agarrado o amigo pelo pescoço depois de ele ter discordado acerca do esporte que eles iriam praticar a seguir na aula. O João nega o "esganamento". Diz que eles bateram boca porque o colega não aceitou a derrota da sua proposta e que eles de fato se "pegaram". O fato é que ambos foram pra sala da coordenação. Entraram brigados, mas depois de serem repreendidos, admitiram o erro. Apertaram as mãos e voltaram juntos para a sala de aula. No final do dia, pegaram, como sempre, a mesma perua. Sentaram um ao lado do outro e voltaram pra casa conversando sobre tudo e o nada como se nada tivesse acontecido. Como sempre.

Em casa, no entanto, o João ainda teria de nos encarar. A mim e a Mãe. Admito que passei o dia tenso. Talvez até mais do que ele. Quando chegamos, ele estava lá, de pé à porta. As mãozinhas juntas, cabisbaixo. "João, já sei o que aconteceu. Vamos conversar no escritório." Ele se virou e foi até lá. Um ou dois minutos depois, quando cheguei, ele estava virado para a parede. "Ei, deixa disso. Senta aí. O que aconteceu?" Atropelando as palavras, ele contou a sua versão. A Mãe falou primeiro. Explicou que ele tinha que ter mais paciência, que não podia partir pra cima só porque alguém tinha uma opinião diferente da dele. Deveria argumentar, defender o seu ponto de vista, sem esmurrar, esganar ou chutar. Ele concordou. Emendei que ele deveria sempre se lembrar que sempre uma ação resultará numa reação. Simples assim. Desde então venho meio que batendo nessa tecla, que é uma forma de tentar fazê-lo pensar antes de agir. Enfim, não houve choro ou qualquer sinal de impaciência. Esperto, o João pareceu compreender que havia errado. No entanto, achei que não poderia deixar apenas na conversa. Sabe aquela história de "entrou por um ouvido e saiu pelo outro"? Então, por mais que ele tenha se mostrado compreensivo, decidi proibi-lo de jogar DS, Wii e acessar a internet, salvo se tivesse algum trabalho escolar. No fim, tínhamos um acordo.

Mas o mais curioso dessa história, acho, foi a maneira como tudo aconteceu. A surpresa. Afinal de contas, o João, ainda que elétrico e por vez teimoso, sempre foi um menino dócil, avesso a confusões. Não digo que fosse um banana, nem acho que deva ser. Não concordo muito com esse papo de levar um soco na cara e não revidar, principalmente na infância, quando, ainda me lembro muito bem, os garotos são cruéis e as leis, as da selva. Acredito, no entanto, que se deva evitar a violência a todo custo e fazer de tudo para não começar uma briga. Muitas vezes, dá pra resolver no papo.

O fato é que passei todo o dia e os seguintes pensando nisso, em como meu filho de 8 anos havia se comportado. Se eu havia feito a coisa certa, se algo que eu tenha feito de algum modo o influenciara e motivara aquele comportamento. Não cheguei a uma conclusão. Sigo matutando. Talvez seja apenas o João crescendo, amadurecendo, aprendendo a lidar com emoções mais fortes, tentando controlar o vulcão que começa a se formar dentro dele.

No fim, a Mãe, ainda incrédula, me perguntou se eu alguma vez havia ido parar na diretoria. "Sim, claro." Duas vezes. Uma por bater boca com uma professora de Artes e outra por sair no braço com um colega na hora do recreio por um motivo que nem me lembro qual. "Nunca imaginei....", ela respondeu. Pois então, e aqui estou.

Luiz Rivoiro, 42 anos, é pai de João, 7, e de Pedro, 3. Jornalista, trabalhou na "Folha de S.Paulo" por 14 anos. É editor da revista "Playboy" e autor do livro "Pai É Pai - Diário de um Aprendiz". Escreve quinzenalmente para a Folha Online.

E-mail: paiepai@grupofolha.com.brLeia as colunas anteriores

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