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DATA DA PUBLICAÇÃO 16/04/2012 | Informática
A insustentável leveza do Gigabyte
O tipo é cada vez mais comum: informado e consciente, preocupado com o descontrole da poluição e dos impactos ambientais, um dia se incomoda com a passividade generalizada e procura tomar atitudes que, mesmo pequenas em sua escala, tem a intenção de mudar o mundo. "Se cada um fizer a sua parte" - diz, orgulhoso - "juntos provocaremos um grande impacto". A nobreza de suas intenções é inspiradora, ainda mais quando envolve uma razoável cota diária de sacrifício. Ir de bicicleta para o trabalho em uma cidade acidentada, esfumaçada, agressiva e perigosa como São Paulo, não é nada fácil. O mesmo pode ser dito do esforço empenhado em cálculos de impacto e na escolha dos produtos a restringir em seu cardápio e vestuário.

Ao contrário dos ambientalistas de épocas passadas, essa atitude sutil e serena de resistência não faz dos novos ativistas "ecochatos" ou hippies isolados. Por mais que seu discurso seja levemente panfletário, não se pode dizer que esses orgulhosos cidadãos estejam desconectados, ultrapassados ou alheios ao que se passa com o resto da sociedade. Como todo mundo, eles também jogam videogames, baixam filmes, ouvem rádio online e usam a Internet em parte significativa de seu cotidiano.

A mensagem que costumam passar lembra que todos estamos conectados, em um sistema fechado, interligado em rede, do qual não há saída. São comuns as referências ao pensamento dos antigos que até há pouco tempo acreditavam que florestas, ar, oceanos, diversidade, água e combustíveis durariam para sempre e, nessa inocência, colocaram parte significativa de nosso ambiente em risco. Não há como negar a razão de seus argumentos. Sua atitude, no entanto, pode estar um pouco equivocada.

Há cerca de quatro anos, em uma das conferências TED, o empreendedor e investidor Jay Walker fez uma apresentação, como muitas nesse tipo de evento, confusa e impactante. Ela teria tudo para ser esquecida até que, em seu final, o apresentador mostra uma pedra de carvão e diz para a plateia que aquele era o custo energético de cada megabyte transferido na rede.

O número, é claro, é uma estimativa. Mas está longe de ser exagerado. A configuração dos data centers e de cada máquina intermediária entre o disco rígido que armazena o conteúdo e o PC, tablet ou smartphone que o consome varia muito, a ponto de ser impossível estimar o custo energético real de cada transferência. Uma coisa, no entanto, é certa: ele está longe de ser gratuito.

À medida que diminuem os custos de processamento, armazenamento e transmissão de dados, a ideia de uma rede mundial de conteúdo a custo zero se torna cada vez mais comum, varrendo para debaixo do tapete a percepção de que cada bit de informação está efetivamente armazenado em um computador em algum lugar do mundo. E que esse computador esquenta e consome uma energia limitada, poluente (boa parte dela é gerada por usinas termelétricas) e, acima de tudo, finita.

A "nuvem" é pesada, quente e faminta. Ela vai consumir boa parte dos Gigawatts produzidos em Itaipu e Belo Monte, em parte para transferir músicas e vídeos de gatinhos dormindo. Se a estimativa de Jay Walker estiver correta (ela me parece tímida), cada megabyte transferido queimaria 10g de carvão nos EUA, o que significa seis ou sete vezes esse volume para passar por todos os intermediários até chegar aqui. Assumindo que a estimativa do Google que cada página web tem o tamanho de 300KB, três páginas - ou o envio de um e-mail - são o necessário para gastar essa quantia. Seguindo o raciocínio, cada gigabyte transferido queimaria um saco de carvão de dez quilos, um DVD baixado garantiria um bom churrasco e uma série de TV de várias temporadas pode equivaler a um pequeno incêndio. Sem considerar, é claro, o custo energético de ar condicionado, máquinas de suporte e do PC que fica ligado por um bom tempo a transferir e armazenar todos esses dados.

Os problemas de aquecimento global, crise energética e escassez de água são muito mais complexos e interligados do que aparentam. Pequenas atitudes, quase sem esforço, estão ao alcance de todos: armazenar em servidores remotos apenas o que for necessário, evitar o consumo de conteúdo online e, sempre que possível, estimular o empréstimo. Em outras palavras, usar a rede para o que for essencial, e desligá-la sempre que possível. Até porque boa parte da energia usada para alimentar os pequenos luxos e comodidades tecnológicas dos dois bilhões de pessoas conectadas é finita e de grande impacto ambiental.

Luli Radfahrer é professor-doutor de Comunicação Digital da ECA (Escola de Comunicações e Artes) da USP há 19 anos. Trabalha com internet desde 1994 e já foi diretor de algumas das maiores agências de publicidade do país. Hoje é consultor em inovação digital, com clientes no Brasil, EUA, Europa e Oriente Médio. Mantém o blog www.luli.com.br, em que discute e analisa as principais tendências da tecnologia. Escreve a cada duas semanas no caderno "Tec" e na Folha.com.

Por Luli Radfahrer - Folha Online
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