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DATA DA PUBLICAÇÃO 27/03/2017 | Setecidades
Paranapiacaba longe do potencial turístico
Paranapiacaba longe do potencial turístico Foto: André Henriques/DGABC
Foto: André Henriques/DGABC
Quatro anos depois de a Prefeitura de Santo André anunciar um novo tempo para Paranapiacaba, com investimento do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) Cidades Históricas, a Vila continua com sérios problemas estruturais e com número de visitantes cada vez menor, segundo moradores e comerciantes. O valor anunciado à época, em janeiro de 2013, era de R$ 41 milhões, verba proveniente do governo federal. De lá para cá, pouco se avançou e ainda não se sabe quando as intervenções serão 100% concluídas.

Das nove ações selecionadas para o PAC Cidades Históricas em Santo André, somente duas foram concluídas, sendo o restauro do almoxarifado da antiga SPR (São Paulo Railway), no valor de R$ 339.807,64; e a restauração da Casa de Engenheiro (atual Biblioteca Municipal), a qual custou R$ 89.900,54.

Segundo o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), outras três ações de restauração estão em andamento: garagem das locomotivas, oficinas de manutenção das antigas SPR e RFFSA e imóveis da Vila Martin Smith, que possui 242 residências.

Atualmente, a Vila de Paranapiacaba, com todo seu charme, silêncio e comodidade, sofre com problemas relacionados à Saúde, transporte e falta de turistas. O funcionário de estabelecimento comercial Gilvan dos Santos Moura, 49 anos, cita que a primeira palavra que vem à cabeça é “abandono”. “A pior situação que a gente tem aqui é o ônibus. Não tem horário, vive quebrado. Para pegar o que vai para a Estação Prefeito Saladino você tem de consultar um vidente”, diz, ressaltando que a dificuldade persiste há 30 anos.

Lucimar Maria de Sousa, 52, estava indo até o mercadinho quando parou para falar com a equipe do Diário. “Paranapiacaba é um lugar pacato para se viver.” A filha dela, de 29, tem paralisia cerebral, o que a impede de trabalhar, sendo ajudada apenas pelo filho. Ela pede que as pessoas deem tempo ao tempo para ver o que acontece. “Semana passada me falaram que quando eu viesse ao posto (médico) era para trazer meu papel e copo”, conta. “Não temos serviço aqui. Para trabalhar, temos de ir para fora. Eles (Prefeitura) se preocupam mais com os comércios do que com a gente. Além disso, tem um ônibus direto para Santo André que sempre está quebrado.”

HISTÓRIA ESQUECIDA

O monitor ambiental Osmar Losano, 56, considera que Paranapiacaba está abandonada no que diz respeito à valorização de seu patrimônio histórico, deixado de lado em relação a passeios em cachoeiras, por exemplo. “Em 14 fevereiro completou 150 anos da inauguração da Ferrovia Santos-Jundiaí, e ninguém falou nada a respeito. Isso é um grande abandono na minha opinião. Sem a história, a Vila se tornará um monte de casa velha, embora tenha valor cultural e patrimonial”, aponta.

A história do time de futebol de Paranapiacaba é curiosa. Fundado a partir da união entre Sociedade Recreativa Lyra da Serra e o Serrano Athletic Club, em 15 de outubro de 1936, o fato ocorreu por conta de rivalidade que chegava quase ao ponto de interferir no relacionamento entre os empregados da SPR (São Paulo Railway). À época, os responsáveis pela empresa propuseram a construção de sede para abrigar o novo clube, com o nome de União Lira Serrano.

A trajetória de luta dos trabalhadores que conseguiram fazer com que o trem passasse a Serra do Mar e vencesse os aclives e declives levando café e trazendo dinheiro para a região é exemplificada pelo agora aposentado da antiga ferrovia, jogador do clube da Vila por mais de dez anos e dono de bar há 36 anos, Antônio Fernandes, 63, que conta a respeito da rotina de trabalho. “Chovia muito antes. Foram mais de seis meses chovendo. O pessoal que trabalhou na Serra consumia a cachaça para esquentar”, confessa, referindo-se ao Cambuci, fruto consumido na época após ser curtido na cachaça.

A professora doutora especialista em História Social da UFABC (Universidade Federal do ABC) Ana Maria Dietrich relata a importância de Paranapiacaba para o desenvolvimento do Brasil no século XIX, quando a primeira grande ferrovia brasileira tinha o desafio de vencer os 700 metros de altitude entre a Serra do Mar e Santos. “A Vila é candidata a patrimônio universal pela Unesco por dois motivos. Pela ferrovia e pela questão técnica de ter vencido o obstáculo de transportar o café para o Porto de Santos.”

‘Esperamos, em breve, ver a Vila com uma cara diferente’

À frente da atual Pasta de Gestão de Recursos Naturais de Paranapiacaba e Parque Andreense, futura Secretaria de Meio Ambiente de Santo André, o ex-vereador Donizeti Pereira (PV) atribui as dificuldades da Vila à questão do valor do contrato fechado na gestão passada, mas espera ver a Vila com uma cara diferente em breve. “Uma coisa era o valor em 2013, outra coisa é o valor hoje. O pedido é que as obras caibam nesse recurso”, afirma, sendo que até agora foram liberados pouco mais de R$ 10 milhões para intervenções.

Pereira tem a expectativa de que as obras acabem dentro do prazo do termo de compromisso, válido até 2019, porém ressalta que “não é possível cravar nada porque cada vez que se entra em um imóvel (a ser restaurado) você encontra uma surpresa.”

Com três meses de administração, ele crê que os processos estão dentro do ritmo e espera o pente fino ser feito para que ocorra uma aceleração. “O campo, o cinema e o hospital estão em fase de elaboração de chamamento para licitação”, afirma. O secretário avaliou que o restauro da garagem das locomotivas, que abriga casa do engenheiro e almoxarifado, está em 90%. A ideia é a de que a plataforma onde o trem turístico irá parar seja entregue entre abril e maio. No caso dos 242 imóveis, o processo está em torno de 15% de execução e em cerca de 70% no que diz respeito ao projeto, o qual espera aprovação de diversos órgãos.

Sobre o transporte público, problema mais citado por moradores, Donizeti aponta diálogo com a empresa responsável pelo transporte para atingir melhorias. Ele comentou que o governo dialoga com a CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) para aumentar a quantidade de viagens do trem turístico e estuda intervenções para quem utiliza o próprio veículo para ir à Vila.

A relação de Paranapiacaba com o turismo, na opinião do secretário, é vista pelo lado da possibilidade de qualificação a partir das melhorias, de suma importância para a Vila ser cuidada da forma que merece. “Acreditamos que o movimento caiu por essa sensação de abandono. Por isso, existe a parceria entre Prefeitura, comerciantes e moradores. Queremos mudar este quadro.”

Por Matheus Angioleto - Especial para o Diário
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